Você Precisa Viver Isso Pelo Menos Uma Vez na Vida
Nos últimos meses, tenho me permitido conhecer lugares nunca antes vividos, nunca antes visitados. Depois de participar do Saberes da Caatinga em Exu, em janeiro deste ano, recebi um convite muito especial de uma amiga querida para passar mais alguns dias por lá — no Posto da Serra, em um lugar onde a magia é quase palpável.

Essa imersão me reconectou com a minha infância, quando eu morava na Usina Colônia em Jaboatão dos Guararapes. Reconectou-me com meus antepassados, com as pessoas que fizeram parte do meu itinerário de vida, da infância até hoje. A casa onde fiquei não tem energia elétrica, não tem internet, e a água não é encanada — mas tem algo infinitamente mais importante: a energia do amor.

Foram dias mágicos, de repensar o valor da água, de admirar o sorriso no rosto das crianças ao verem uma nuvem carregada anunciando a chegada da chuva no sertão. A gente cresce ouvindo e vendo reportagens sobre a seca nordestina — no Globo Repórter, no Fantástico e outros programas — e acaba criando uma ideia do que seria “o sertão”. Mas viver o sertão é outra história. É sentir, de dentro, como as pessoas realmente vivem.

Essa vivência em Exu, na casa da minha amiga, restaurou conexões que eu acreditava ter perdido, abriu novos caminhos e me proporcionou reencontros preciosos — comigo mesmo e com o outro.

Imaginem acordar cedinho, tirar uma lata de água da cisterna e tomar um banho gelado, gostoso, com a água que foi guardada — muitas vezes, da única chuva do ano. Imaginem tomar um café passado no coador de pano, feito em fogão à lenha, ao som dos pássaros. Imaginem deitar numa rede e prosear ao ar livre, sentindo o calor do sertão durante o dia, e à noite ser agraciado com um céu estrelado, uma lua resplandecente e o frio que chega mansamente para acalmar os corações.

Assim foram meus dias nessa casa mágica. E é assim que vou chamá-la: casa da magia. Porque foi exatamente assim que me senti lá.
Como esquecer o feijão feito na panela de barro, no fogão à lenha, temperado com o ingrediente mais especial: o amor? Como esquecer os vinhos, as rodas de conversa, os sorrisos intermináveis, a felicidade genuína? Hoje, percebo com mais clareza que a simplicidade tem sido um combustível que preenche e transborda nossos corações.

Viver essa magia foi um presente imenso. Um presente que, inclusive, já me faz querer voltar.
Estudando a sociomaterialidade — as conexões entre elementos humanos e não humanos no processo de aprendizagem — e, neste ano em que tanto se discute justiça climática, venho refletindo: como seria poderoso se um grupo de pessoas urbanas, que nunca precisaram guardar um balde de água da chuva, passassem por uma imersão como essa?
Tal experiência desperta em nós a urgência de repensar o futuro, o consumo, os afetos, a nossa própria existência. Trabalhar com a materialidade — entender como os objetos e espaços se conectam com os sujeitos — é, também, uma forma de reencantar a vida.

Se você se sentiu tocado por essa narrativa e topar viver uma imersão como essa, me manda uma mensagem. Terei o maior prazer em organizar esse movimento.